quinta-feira, 23 de agosto de 2007

19,5


Nos últimos cinco dias eu aprendi muitas coisas em virtude do meu acidente. Uma delas é a incrível capacidade de adaptação do ser humano. Explico. Um evento como o que eu vivenciei (nem tão grave, nem tão tranqüilo) é feito de três momentos:


O primeiro: terror

É a hora do “ih, fudeu, aconteceu comigo”. A ficha demora pra cair, o nível de terror da vítima eleva-se até o topo do Everest, “abre-se uma fenda no tempo-espaço e o universo implode em caos e desespero” - frase que o Renex repetia exaustivamente no 3º colegial.

Dada a proximidade temporal com o momento em que eu decidi subir na moto, a única coisa que passa pela cabeça do acidentado é a malha de possibilidades que a vida nos coloca todos os dias. Fazendo uma analogia barata: só dá pra pensar em como o leite QUASE não foi derramado (inclusive o vocábulo “quase” tem seu momento de glória, dada a quantidade de vezes em que é repetido). Em fala de pobre: foda-se que aconteceu, o que importa é que poderia não ter acontecido.

Frases: “Que idéia, andar de moto! Que idéia!”; “Olha que eu ia pôr o tênis antes de sair, porque tava frio, mas fiquei com preguiça!”; “Juro que eu tava querendo descer da moto, eu tava com medo, mas resolvi ficar só mais um pouquinho! Por quê?! POR QUÊ?!”



O segundo: depressão

É caracterizado pelo alto índice de secreção lacrimal. Eu estava lá no pronto socorro de Itu (que eu apelidei de ER do mundo subdesenvolvido), vivenciando torturas chinesas, sentindo meu dedão dependurado ser arrancado à mão, assim, como se eles estivessem puxando a etiqueta de uma roupa nova, e sem saber direito o que ia ser de mim. Achei que nunca iria aceitar aquela ausência dedal, imagina, que horror, que horror.

Nesse momento, a angústia maior consiste em não saber o que fazer com aquele leite derramado no chão: droga, aconteceu, droga, poderia não ter acontecido, e droga, o que eu vou fazer da minha vida?

Frases: “Nããããooooo!”; “Eu vou voltar a andar, doutor????”; “E agora, se eu quiser ser atleta profissional, só vou poder participar das Para-Olimpíadas?” (obs: eu nunca tinha sequer considerado em ser atleta até o momento...)



O terceiro: resignação

Essa etapa é a hora de botar a mão na massa, pegar um paninho e limpar o leitinho do chão, sem esquecer de passar um Veja pra não ficar grudento (e, principalmente, pra não chamar barata, né). A nossa freqüência cardíaca volta ao normal, as lágrimas secam, você começa com uma piadinha daqui, outra dali, daí a pouco já dá pra escrever um livro de humor negro. Passou um certo tempo do momento fatídico, então a perda se incorpora na sua vida, vira parte da sua identidade. Fica até estranho pensar que um dia você já teve 20 dedos completos.

Frases: “Eba, vou fazer uns dedos coloridos de massinha pra colocar no lugar!”; “A vida implica em modificações, ela faz suas marcas. É até estranho você ir pro caixão do mesmo jeito que saiu do útero da sua mãe, com todos os dedos e tal. Quem faz isso é porque não aproveitou a vida.”

domingo, 12 de agosto de 2007

Curriculum Vitae


Eu já ouvi falar por aí que uma das funções de um blog é fazer seus leitores conhecerem um pouco da vida de seu autor. Seguindo essa lógica, proporciono a quem quiser um pequeno conhecimento da minha pessoa, assumidamente fragmentado:

Minhas meias altamente coloridas


Minha carteirinha da biblioteca



Spice Girls


Meu crachá da SUA (Semana Universitária do Audiovisual)




Luvas da minha infância



Meu óculos, torto, sujo e porco


Spice Girls de novo


terça-feira, 7 de agosto de 2007

O quê quê há, velhinho?


Hoje durante a aula eu pensei em algo engraçado. O professor tava falando sobre ângulos tridimensionais. Daí eu levantei a mão e falei "Como assim, ângulo tridimensional? Se eu pegar um cone, é tipo a pontinha, o cotoco dele?"
Eu ri sozinha, porque achei a palavra "cotoco" muito engraçada.

Mas esse não é o ponto, a questão é que ângulo pra mim é uma coisa plana, não pode ser tridimensional. Que absurdo. O professor tentou me explicar fazendo uma pseudo-dobradura com um papel, eu até entendi, mas nem por isso aceitei essa concepção maluca da espacialidade das coisas.

Até que me veio a luz:


Doc Emmet Brown: Marty, you're not thinking fourth dimensionally!
Marty McFly: Yeah, I know, I got a real problem with that.


Eu tinha na cabeça todas as falas do "De volta para o futuro", pois agora eu vejo a trilogia ao menos uma vez por semana - passa no Telecine o tempo todo, para o meu deleite. Então lembrei do Doc falando "Você não está pensando quatridimensionalmente!", quando ele fala pro Marty acelerar o DeLorean (máquina do tempo) em direção a um painel gigante, e é lógico que o Marty responde, como assim, vou bater no painel, mas o Doc fala não né, dããã, antes de chegar no painel você vai ter se transportado para o passado, seu burro, assim não dá, você não está pensando quatridimensionalmente!

Moral da história: cada um de nós pertence a determinado plano da realidade por um algum motivo que nos é alheio. Tentar subverter tal ordem e transcender para outro plano pode causar consequências catastróficas.

You're the doc, Doc!